Dentro de mim...
Dentro de mim...
Dentro de mim...
o silêncio e um barco que chega e volta
um engano um abismo no azul
um vaso sem flor um capricho mudo
o ruído a morte e a sorte
pobre louca...
perdida no chão do abandono
Dentro de mim...
uma virtude uma graça
uma quimera um queixume
à procura de ti... a crepitar
anjos perdidos sem noite sem mar
sussurram nas areias pisadas
riscos e traços de brumas
em passos e descompassos
fecham-se afogadas em solidão
sonhos doidos...
vão sonhando...
abrindo suas asas num grito só
para esculpir sua fúria
Dentro de mim...
apenas um amor vago e triste
sábio insensato ardente contido
expira em grito agudo... inerte
em ânsia louca
uma fantasia absurda e desorbitada
aquieta-se numa concha vazia
Dentro de mim...
meu caminhar é vazio... indeciso
cheio de encontros e desencontro fortuitos
debruço-me na cobiça do teu abrigo
um corpo sem face sem alma
pressinto e sinto
o vento ronda-me... assusta-me
e vejo um corpo soldado ao meu
em suavíssima exaustão
deserto-me para bem longe de mim
e me permito mergulhar...
afundar-me dentro de ti... é deslumbrar
teus traços teu calor tua sorte
ninguém os vê caindo em espinhos
Dentro de mim...
Gilda freitas