CAFÉ DA MANHÃ

Nada mais importa.

No café da manhã

Eu olhando você fingir

Toda a vida que se passou.

Não há mais proteção para nós

Margarina passada no pão caído.

Deposito um pouco de café frio

Numa xícara de asa quebrada,

É sacrificante levá-la à boca.

Tão perto de você, e ainda assim,

Tão distante como a lua no céu de ontem.

Seguimos nosso último café da manhã

Mudos e insossos feito um pedaço de maçã,

Não há açúcar ou adoçante artificial, amargamos.

Nos olhamos pela última vez, xícaras,

E um abismo alimentar entre nós.

Terminamos, tiramos à mesa,

Lavamos a louça, tudo limpo,

Forros trocados, comida dividida,

Louças guardadas. Sobre a renda

Bordada da mesa, duas alianças

Separadas, esfriam, abandonadas

Pelos dedos que tanto as usaram.

Acabou-se o café da manhã, é fome.