Os Olhos e as Olheiras
Eram dessas coisas que lhe falava
Todos os dias, como um mantra
E a poeira foi cobrindo tudo, as vistas
Os olhos claros e as suas olheiras escuras
Eram aqueles caminhos infinitos
E o breve de uma chuva rala e fria
Era disso que falava costumeiramente
Todos os dias, como uma ladainha
E a poesia que já não lê há tempo
Os olhos magros e suas olheiras densas
Eram dessas manias de colecionador
Ia guardando corações para o futuro
E o futuro chega todos os dias, todos
E a palavra cantada pairava no ar
Não era do amor e seus apegos
Nunca falamos de amor, nunca
Os olhos calados e suas olheiras gritantes
Era disso tudo que conversávamos
Eu, você e o silêncio
Milton Oliveira
Abril/2016