Os Avessos
Não penso mais em você, mas não lhe esqueço
Rezo uma reza, rezo um terço inteiro e nada de você
Sigo adiante como quem anda sem saber pra onde
Não quero mais você, mas não lhe dispenso
Ainda hoje acordei descalço dentro de um sonho
E você lá parada com um vento sobre os cabelos
Não me dizia nada, mas na sua boca havia um dialogo intenso
E ri como riem os loucos, os lunáticos, os poetas, os bentos
Era de você que falava comigo, em segredo, em mistérios
E a vida ia caminhando nem sei para qual cidade, qual deserto
Não sei mais te assimilar no pensamento, mas sempre te penso
Nesta casa cheia de coisas velhas, de infâncias nascidas ontem
Não penso mais em você, mas lhe pertenço suavemente
Fui costurando os tempos, os trapos, o visgo da vida inteira
lhe consumi em besteiras, em hipóteses, no baralho das lembranças
Fui fitando o mundo pelos cantos, pelos corações, pelos avessos
Milton Oliveira
22.08.12