906 Feiura
Feiura
Desentoava da natureza que a cercava e a todos envolviam
Era negra – não que isto seja defeito.
Era coxa – não que ter aleijo desumaniza.
Era baixa – não chegava a ser anã.
Carregava a feiura.
Carregava sua realidade.
Carregava sua vida.
Carregava tudo naquele andar torto e miserável.
Carregava dois imensos embornais:
uma sacola na mão e um saco nas costas.
Causava pesares e pensares: Por que ela é assim?
Espiritualistas teriam dito:
“Foi ela que escolheu ser assim para se aperfeiçoar nesta encarnação.”
Cristianistas responderiam:
“Ela é assim para que a nossa virtude se manifeste compadecendo-nos dela.”
Respostas conformistas e egoístas.
Vi além de todas suas dificuldades.
Ela quase se arrastava para que seu filho andasse confortavelmente
E pudesse admirar a Natureza tocando as flores
E correndo atrás dos pássaros
– exemplo de abnegação e altruísmo materno –
Beleza de mãe!
Nardo Leo Lisbôa
Barbacena, 22/12/2000
Caderno: Poesia Efervescente