Vi um Leão

Na tentativa de entender o esquema

Do feroz leão que nos pega pela gola

Eu fiquei mais rasgado que a camiseta

Que precisava usar pra entrar na escola.

O leão nos faz sentar. Ele é bem mais forte

Que meu corpo a estudar coisas que não lembro.

Ele ruge assim: "Quem faz bagunça é torpe!"

Mas o que é torpe já se perdeu no tempo.

Eu vejo meus colegas bebendo a morte

Nas latinhas coloridas dos populares.

Então olho nos seus olhos - neles eclode

A larva do demônio: demônios em pares

Quando suam pro Diabo na assonância.

O leão me jogou para outra parede -

"Quem mandou perguntar o que fiz com a mente

Diferente do menino triste, carente

Que pensava que era errada toda a gente

Vivendo alegremente presa na corrente?!"

O sangue escorrendo pela minha testa

Não doía como o peito do jovem já condenado

Porque sua alma gêmea foi para uma festa

Descobrir o sabor de lábios excitados.

De volta pra escola; o que aprendi?

Que professores pensam dar aulas a santos?

Estou exausto. Já caí, chorei, sofri,

Mas só entendi que a sina é um mar de prantos.

Ensinem pra gente a química, a física

Enquanto olhamos pra caixinha da vida.

É sintoma do que ter burrice intrínseca

Às latinhas coloridas que eu queria?

Mas vamos dar risada junto do leão,

Todos juntos, vamos lá: hahahahaha!

Olha só o rosto desse cara bundão

Que pensa que a gente não passa de gentalha!

Pra outra parede o feroz me lançou:

"A voz do povo é a voz de Deus, essa é a regra!"

Mas essa voz aí, quem foi que inventou?

"Fui eu, o Leão. Agora chore, pateta!"

E me jogou pra dentro de minhas entranhas.

28/8/2016

Malveira Cruz
Enviado por Malveira Cruz em 28/08/2016
Reeditado em 28/08/2016
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