hora morta

o relógio tem

suas horas mortas,

diferentemente de suas horas findadas.

é um tempo envolto em gelatinosa parafina

relógio frio de sangue coagulado, estagnado,

réptil esperando sol para mover suas articulações empedradas.

hora morta

é aquela cansada, arrastada,

que não passa nem a custo de reza brava.

teias invisíveis formam uma rígida mortalha

a segurar os ponteiros, engessando o avançar,

a descida da hora à sepultura dos sessenta.

são horas que tomaram para si

a sonolência opaca dos mortos imóveis

e suspiram seu tique-taque estático,

morosas, demoram, e quando,

de fato, deixam o relógio, para de vez, morrerem,

as novas horas correm leves, cheias de vida e alegria.