Lábios

Se eram seus olhos eu não sei

Sei que era uma ardência nos sentidos

Uma insensatez

Um caminho desesperado

Iluminado por uma lua maior

Se eram suas mãos eu não sei

Sei que era uma demência estrangeira

Uma língua que não sabia bem

Uma ilusão sobre meus cílios

Uma lamparina no fim do porto

Uma casa feita de sonhos mortos

Se eram seus passos eu não sei

Sei que era uma palavra ingrata

Uma serenata irresponsável de belezas

Um copo de mar sobre a mesa

Uma noite alta para os meus pés

Uma vertigem

Uma rosa que se consumia vermelha

Uma luz acesa dentro do peito

Uma voz que cantava a Deus

Se eram seus dedos eu não sei

Sei que era uma tarde plena

Uma menina de olhos de cristais

Uma fotografia sobre a alma

Uma sala vazia de seus ais

Uma cruz para carregar até o cais

Uma louça para secar depois

Se eram seus delírios eu não sei

Sei que era tarde para não se ter esperança

Uma dança nos sapatos me encabulando

Uma moça que sorria do espelho

Um medo sonso dentro da gaveta

Se eram seus truques eu não sei

Sei que entreguei meu coração ao ócio

Percorri estradas feitas de ossos

Cruzei espaços feito um relâmpago

Se eram seus olhos eu não sei

Sei que eram rosas os seus lábios

Os seus lábios

Não sei

Milton Oliveira

06.10.11

milton antonios
Enviado por milton antonios em 25/08/2016
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