AS DUAS ILHAS
Wanda Cunha
Existe a ilha fundada por franceses
E a ilha que seria dos holandeses.
Existe a ilha que já foi dos portugueses
E a ilha que ainda é dos burgueses.
Existe a ilha nas águas do Maranhão
E existe outra ilha nas mágoas do coração.
Existe a ilha que já foi Atenas
E, uma outra ilha que é Jamaica, apenas.
Existe uma ilha cheia de telhados verdes,
De sobradões antigos, de vitrais e de ladeiras.
Existe uma outra ilha, cheia de casebres, sem eira e nem beira.
Existe a ilha dos artesanatos, das comidas típicas,
Das praias tão belas.
Existe uma outra ilha,
cheia de meninos desnutridos,
criados nas ruas e nos mangues e que ninguém revela.
Existe a ilha dos turistas e dos artistas.
Mas existe a ilha dos flagelos, dos buracos e
dos amargurados.
Existe a ilha dos becos
E existe a ilha dos medos.
Existe a ilha cheia de praças
E existe a ilha que perdeu a graça
Existe a ilha das artes e do bumba-meu-boi,
Mas existe a ilha que se parte entre a felicidade que não existe
e a felicidade que nunca foi.
Existe a ilha das lendas antigas
E a ilha das realidades novas e cruas.
Existe a ilha toda arquitetônica,
Empavonada de trejeitos coloniais
Mas existe a ilha tristonha,
Que esconde os marginais.
Existe a ilha dos amores
E existe a ilha das dores.
Existe a ilha dos azulejos e dos mirantes
Mas existe a ilha dos desejos errantes.
Existe um mar de águas cinzentas ao redor da ilha que existe
E existe uma ilha de algas da fome, do abandono e da pobreza
Que o mar das amarguras esconde dentro da ilha que desmente a outra ilha.
A ilha das poesias felizes existe
Mas também existe a ilha dos poetas tristes.