Nada mais que entretenimento.
Uma gritaria vem da rua
São duas mulheres brigando
Não consigo ouvir sobre o que
Palavras soltas, gritos
Um a um os moradores saem para averiguar
Seria um assalto?
Corações saem da hibernação e começam a bater
Situação incomum para um dia chuvoso e frio de domingo
Chega a dar até um friozinho na barriga
As duas estão no meio da rua se batendo pateticamente
Situação surreal
Todos observam como se assistissem à uma cena de filme ou novela
Estão exitados por coisas novas e emocionantes estarem acontecendo assim, do nada
Se sentem especiais
De repente uma das mulheres saca a arma
Escondida na lombar
A outra avança em sua direção sem medo algum
Não acredita que aquela situação é real
Aquela briga não existe
Aquela arma não existe
É uma mancha preta,
Nada mais
Toda a plateia olha
Atenta
Se não fossem suas roupas
E a baba que lhes escorre da boca
Seriam confundidos com estátuas de mármore
Frio e branco mármore
Três estalos secos são ouvidos
E o recém nascido defunto se afoga numa poça
Que se forma com seu sangue
Todos continuam olhando
Longe da rua
Longe de seus corpos
Longe do mundo
O cheiro de pólvora os empurra mais e mais para seus respectivos aléns
Portas e janelas são trancadas
Mas as cortinas permanecem bem abertas
Os olhos
Agora famintos
Bem focados
A morta está estatelada de barriga no chão
Ao lado dos miolos de sua assassina
Já que essa viu a realidade
E de alguma forma teve que fugir dela
A cena dá ao domingo
Um delicioso fim a lá noir
Uma pena que amanhã é segunda feira.