Nada mais que entretenimento.

Uma gritaria vem da rua

São duas mulheres brigando

Não consigo ouvir sobre o que

Palavras soltas, gritos

Um a um os moradores saem para averiguar

Seria um assalto?

Corações saem da hibernação e começam a bater

Situação incomum para um dia chuvoso e frio de domingo

Chega a dar até um friozinho na barriga

As duas estão no meio da rua se batendo pateticamente

Situação surreal

Todos observam como se assistissem à uma cena de filme ou novela

Estão exitados por coisas novas e emocionantes estarem acontecendo assim, do nada

Se sentem especiais

De repente uma das mulheres saca a arma

Escondida na lombar

A outra avança em sua direção sem medo algum

Não acredita que aquela situação é real

Aquela briga não existe

Aquela arma não existe

É uma mancha preta,

Nada mais

Toda a plateia olha

Atenta

Se não fossem suas roupas

E a baba que lhes escorre da boca

Seriam confundidos com estátuas de mármore

Frio e branco mármore

Três estalos secos são ouvidos

E o recém nascido defunto se afoga numa poça

Que se forma com seu sangue

Todos continuam olhando

Longe da rua

Longe de seus corpos

Longe do mundo

O cheiro de pólvora os empurra mais e mais para seus respectivos aléns

Portas e janelas são trancadas

Mas as cortinas permanecem bem abertas

Os olhos

Agora famintos

Bem focados

A morta está estatelada de barriga no chão

Ao lado dos miolos de sua assassina

Já que essa viu a realidade

E de alguma forma teve que fugir dela

A cena dá ao domingo

Um delicioso fim a lá noir

Uma pena que amanhã é segunda feira.

Lucas Fontana de Lucca
Enviado por Lucas Fontana de Lucca em 23/08/2016
Código do texto: T5737789
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