A hora do sono.
O coração anda cheio de memórias.
É uma carne duuura feito rocha,
Que bate e amolece a cada bombeada de sangue.
Hoje me sinto gasto.
O mal da melancolia assentou-se a beira de meu leito, como se o móvel fosse uma cova rasa esperando pelo cobertor de barro.
Mas para quê tanta pressa se tal engrenagem ainda bate e o músculo tem todo o rigor e a saúde da juventude?
É de fato que andas fatigado, mas quem não há de concordar de que existem coisas na vida que nos dão uma canseira, como àquela que vem no tempo da velhice?
Os homens tentam prender o tempo ao invés de aprender com ele.
E mal sabem estes homens que é o tempo que lhes fazem prisioneiros.
A idade ainda é pouca, mas as dores, os problemas, as responsabilidades me são quase centenárias.
Espio a vida em suas idas e vindas
Ou será ela a me espreitar?
Deito-me na cama fria e espero por Oneiros.
Nesta hora as ações do dia saltam-me a mente.
Esta é a hora em que os homens de tudo se lembram,
Até da infância.
Oneiros?
Este ser está atrasado e a consciência brinca de torturar-me.
São lembranças, esquemas, projetos, acontecimentos.
Todo arquivo mental entrando em pane em minha memória.
Onde está oneiros?
Tenho hora marcada com Morfeu.
Precisamos rever este contrato.
Oneiros sempre atrasado só vem ás duas da manhã.
Morfeu me mostra pesadelos e diz descaradamente que devo interpretá-los.
Como posso interpretar as imagens do meu subconsciente
Se não interpreto-me consciente?
Morfeu deve mudar de ministério.
Deveria ser o deus da ironia ou do sarcasmo, sei lá.
Só sei que anda mais problemático que eu.