O JARDIM DE PAPAI

Papai, quantos verões não se passaram

Para dar ao teu rosto estas sábias rugas

E salpicar o alto de tua cabeça de branca sabedoria?

Ah, papai, lembro-me como se fosse ontem daquela infância,

Na qual, construíste a ponte para toda a esperança do futuro,

Recordo de como fez dos calos, o pão, sobre a mesa das semanas.

Sempre o vi, papai, ali, sorrindo, tão inabalável, tão heróico.

Foste e é sem sombra de dúvidas uma das minhas primeiras inspirações

De força, amor e resistência as intempéries para que tudo desse certo.

E deu! Não é? Fizeste-me moralmente homem. Guardo na memória

Uma nostalgia bucólica da nossa velha casa, do teu jardim, aonde

Cada flor era uma poesia e um perfume próprios de seu tempo.

Hoje, cuidas com ainda mais paciência das flores do teu apreço.

Todas elas viraram bons frutos e alguns destes frutos já estão dando

Sementes para gerar novos frutos. Outras permanecem flores apenas

Para terem os cuidados de tuas cálidas mãos. Ah, papai, aprendi

Contigo, que não há inverno capaz de murchar as flores zeladas

Com amor e devida proteção. No teu jardim três flores peculiares

Um tímido jasmim, um vistoso crisântemo e uma soberana rosa.

Só peço a Deus, papai, que eu possa ser nestes tempos áridos

Tão bom jardineiro, quanto tu foste, pois o bom cuidar eu aprendi.

Saibas, para todo o sempre, papai, que em qualquer resumo da minha

Existência eu lembrarei que teu sorriso falho fora meu sol completo

E que teus braços cansados e doloridos me foram invencível fortaleza.