INOCENTA

O vate em Zufe indica onde deixei minha jumenta,
Onde amarrei meu burro...Puxa um banco, amigo, senta

E escuta atentamente, que o meu verso não lamenta
Nem vem por cota, Lei Rouanet... mas vem, não se apoquenta.
 
A farsa em curso é um monstro que abortou, mas a placenta
Reivindica bom senso tão fictício que inocenta

Indignidades outras de natureza nojenta. 
O vate em Zufe diz, ‘Esqueça logo essa jumenta!’
 
E a aldeia, em todo caso, sabe que não está isenta
Da culpa da catástrofe, do engano e da tormenta

Pois quis quem quis, fez sua escolha e pronto, agora agüenta:
Que leve brioches ou supositórios de pimenta
 
E escuta atentamente, que o meu verso não lamenta
Nem cai bem por placebo, bala de hortelã, de menta...
 
O mal tem nove caudas? Nove-dedos não inventa
As artes dos ladrões amigos seus, mais de quarenta.

E agora, onde amarrei meu burro? E o vate, ‘Ah, não esquenta!
Que a noite encerra em si o embrião dum dia sem tormenta.
 
Mas é melhor que esqueça logo – é sério! – essa jumenta’.
 
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Israel Rozário
Enviado por Israel Rozário em 20/08/2016
Reeditado em 21/08/2016
Código do texto: T5734517
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