Alma Quieta
Não sei bem de suas manhas
Tão pouco por onde derrama
Seus fados e seus garfos
Não sei de onde você vem com tanta
Pressa e com vários tons de malicia
E suas brisas passam pela janela
Não sei bem de suas preces
O que tece enquanto dorme
O que seus lábios consomem
Quando estão com e frio e fome
Não sei bem de suas mãos
O que acariciam o que elas batem
Quando sua alma apanha
Frutas vermelhas no pomar
Dos seus sonhos suponho
Que sejam alaranjados
Bordados na beira com esmero
Com a delicadeza das estrelas
Não sei de suas palavras
Sei apenas do seu falar ligeiro
Como quem joga capoeira
Depois da missa dos quilombos
Sei o que trás nos olhos
Essas olheiras de séculos
Não sei nada de seus mistérios
Sei apenas que vazam e vagam
Pelo céu incerto da boca
E os balões de lindos perigos
Não sei supor seus caminhos
Sei que por eles há passarinhos
E outros cantores celestiais
Não sei bem de seus delírios
Da voz que fala no ouvido
Do aéreo dos sentidos
Não sei bem quase nada
Por isso olho o sol se pondo
Quieto
Milton Oliveira
Julho/2016