PLATÔNIO QUER A FLOR 3
PLATÔNIO QUER A FLOR 3
É raro ver o dia igual ao outro
que foi demorando por que amo
um canto soprado que vem
pelos cantos dominar minha alma
é tão caro viver devoto
da imensidão do caos
sabendo que tenho
que posso
mas do algo que invoco
desta alma prendida de águas
tão mornas
tem um oceano benzendo
traindo minha vida direita
minha vista esquerda
abriu-se vermelha
as janelas fechadas eram céus
debruçados de chuva
sobre meu dorso dolorido
pelo compasso de sempre
ter a sombra da lua vestindo
uma dama que a muda
história que crio provoca
a glória do orgulho sentido
do que eu visto pra tentar
nascer de novo
delicados artesões do tempo antigo
criaram molduras na fachada
sacadas parecendo Veneza
uma pureza européia
intriga-me estes desenhos
as paredes oferecem o passado
o esquecido enriquecido
esculpido pra ser verdade
fazendo-me ouvir a versão do diabo
que me acusa de ser intruso
"avesso ao que não tem corpo"
mosaicos pintados de limo
sobem até ela
prosaicos nas aberturas
conversam qualquer coisa
parecendo pássaros no ninho
enfrentando o mesmo dia
deixando-me afoito
sobre o estorvo que vive neste tempo
que anoitece-me por dentro
e o disfarce cheira tão mal
sobre o perfume do sonho
o pesadelo ronda a morte
do brilho da estrela
quero vê-la ... não posso
desce o nevoeiro nos olhos
a penumbra do estranho
o vislumbre do anti-mágico
me persegue como doença
alguém desconfia
eu temo pelo dia que pode amanhecer...
MÚSICA DE LEITURA: The Animals - House of the Rising Sun