AINDA

Quero fazer poesia nas ruas

entre carros, ônibus,

buzinas, faróis,

pedestres, acidentes.

Poesia coletiva:

cada transeunte – livremente –

escreve seu verso.

A timidez, no entanto,

ainda me retrai, isola-me.

Barreiras antissociais ainda insuperadas

impedem-me de parar na calçada

e decantar em versos rascunhados

- não importa se inaudíveis ainda –

o sentimento humano

guardado em mim

(calado há tempos)

escondido também no sisudo advogado,

na cabisbaixa senhora de bolsa,

no jovem magro de boné,

na menina que carrega – inocente –

a boneca de roupas coloridas.

Poesia pulsante

reprimida, violentada

pelo trânsito sufocante

pela insegurança citadina

pelo olhar do passante:

já vai longe, impaciente...

Essa poesia precisa ser ouvida.

Essa poesia eu quero fazer,

dizer,

ouvir,

GRITAR!

Quero, mas não consigo...

Ainda.

Raphael Cerqueira Silva
Enviado por Raphael Cerqueira Silva em 15/08/2016
Código do texto: T5729689
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