AINDA
Quero fazer poesia nas ruas
entre carros, ônibus,
buzinas, faróis,
pedestres, acidentes.
Poesia coletiva:
cada transeunte – livremente –
escreve seu verso.
A timidez, no entanto,
ainda me retrai, isola-me.
Barreiras antissociais ainda insuperadas
impedem-me de parar na calçada
e decantar em versos rascunhados
- não importa se inaudíveis ainda –
o sentimento humano
guardado em mim
(calado há tempos)
escondido também no sisudo advogado,
na cabisbaixa senhora de bolsa,
no jovem magro de boné,
na menina que carrega – inocente –
a boneca de roupas coloridas.
Poesia pulsante
reprimida, violentada
pelo trânsito sufocante
pela insegurança citadina
pelo olhar do passante:
já vai longe, impaciente...
Essa poesia precisa ser ouvida.
Essa poesia eu quero fazer,
dizer,
ouvir,
GRITAR!
Quero, mas não consigo...
Ainda.