Digitando...

O tempo corria lá fora

nem vi romper a aurora

de um novo dia chegando,

a passarada em alvoroço

e eu já com dor no pescoço

de ficar só digitando...

O café tomei apressado

nem vi quem estava ao meu lado

e da mesa fui me distanciando

ouvi minha mãe gritar num sorriso

leve o casaco se for preciso

e no carro entrei digitando...

Meu pai dirigia sem pressa

parecia me pedir por promessa

que eu ouvisse o que ele estava falando

mas o fone de ouvido me impedia

e assim comecei mais um dia

ouvindo música e digitando...

No almoço estávamos novamente juntos

mas nem sei qual era o assunto

de que estavam tratando

talvez fosse algo do meu passado

do presente ou do futuro planejado

mas não ouvi e continuei digitando...

A noite chegou rapidinho

então percebi que estava sozinho

naquela grande casa vegetando

pensei, onde estaria todo mundo

e entendi naquele segundo

que não havia mais ninguém por perto

a luz apagada, o portão aberto

o silencio absurdo me encontrou chorando

e eu entendi o quanto tinha sido ausente

solitário e doente enquanto estava digitando....

Talvez seja hora de voltar a vida

rever as pessoas queridas

e das suas vidas ir participando

pois nada substitui o carinho

o toque, o abraço, o beijinho

e entender que o tempo está passando

enquanto estamos com o celular na mão

sem viver, sem sentir, na ilusão

de ficar só digitando...

Adilson R. Peppes.

Adilson R Peppes
Enviado por Adilson R Peppes em 15/08/2016
Reeditado em 24/07/2020
Código do texto: T5729413
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