Impoético

Não te ouço, não te ouvirei

Quando vieres com o humanamente correto

Eu amo a mentira, preciso de impostores

Persigo a cada passo o despenhadeiro

O engodo me deixa feliz

Me apraz o corpo retalhado

A carne exposta, os abutres

Que me vendem politicamente correto

Nas praças, nos mercados

Nos templos de milagres

Nos prostíbulos, na extrema unção

Amanha é carnaval

O meu opio de cada dia

Deveria eu fugir da festa

Para a tua alegria?

Não me venha com esta língua suja

Conjugar-me em línguas mortas

Não quero a ressurreição da carne

Tenho vísceras apodrecidas

E mau cheiro entre as pernas

Tenho gosto de adeuses na vida

A minha cabeça arrebenta o muro

E o muro retém minha cabeça

Meus miolos, meus cabelos,

Sais minerais, fósforo, e outras substancias

Que não me deixam pensar

Agir contra quem?

A favor de quem pariu

Toda esta gente

Todos estes molambos

Que fazem linda a vida?

A minha fome é poética

Fotografo as misérias do mundo

Com uma vareta magica

E um sorriso no rosto

Amanha os jornais estamparão

Uma poesia Angolana

As galerias exibirão

Pernas sem corpos

Braços sem mãos

Nenhum adeus

Dirás: Cuidado com o abismo

Direi: O abismo sou eu

O andar de cima me assusta

Prefiro o fundo do poço

E assim, de mágoa em mágoa

De dor em dor, nos entenderemos

A tua verdade, não é melhor

Que a minha mentira

A tua amargura, não é menor

Que a minha

Apenas guardo no olhar,

Uma castidade

Mais ampla que a tua