Queria dizer ao mundo
que não careço de sonhos.
Já os tive, e despertei,
A vida promete mais
do que pode cumprir.
 
Das pessoas
Tive as palavras
(que foram apenas palavras)
E não fecharam as aspas
das inúteis promessas.
 
Já tive o amor,
(e há quem o peça),
Mas esse se foi,
E com tanta pressa
Que não mais voltou.
 
Tive o riso e as lágrimas,
Páginas escritas no escuro,
Garranchos moídos nos dentes
e cuspidos no meio-fio.
 
Tive os filhos que não filhos
e os filhos que são filhos,
Os filhos de outros filhos
e os filhos dos filhos dos filhos.
 
O tempo não me guardou nenhum segredo.
 
Tive medo das noites
e das vozes da escuridão.
Andei nas sombras dos ventres
que pariram em vão.
 
Eu vi tantas portas abertas,
Gente dentro de suas casas,
Casas abrigando almas,
Pessoas que pensavam de si mesmas
o que estranhos não pensariam.
 
Passei por ruas desertas
eu e meu corpo
eu e meu coração
 
Vi olhos verdes
castanhos
azuis
 
e cegos
 
Troquei de corpo mil vezes
por mil moedas que contei,
Não cheguei à riqueza,
A pobreza não me abateu.
 
Soube da fome
em pratos que não eram meus,
Da sede que tantos sentiam
respirando o barro batido
do qual se serviam
 
O desfecho
é que a morte não sabe onde estou,
E assim, vou.
 
 
 
 
MARIO SERGIO SOUZA ANDRADE
Enviado por MARIO SERGIO SOUZA ANDRADE em 13/08/2016
Código do texto: T5727736
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