SONHO INFINITO
SONHO INFINITO
por Juliana S. Valis
Às vezes, sonho em ser apenas um pássaro
ou fagulha na liberdade indelével,
sem hora pra acordar ou dormir,
sem medo de chegar ou partir,
sem receio de rir ou chorar
Ou andar devagar pelas ruas à noite,
Como ventos que nos observam do alto
E sussurram verdades que não podemos ouvir...
Outras vezes, queria ser apenas um sopro
Ou vento, ou fagulha, ou ideia abstrata,
Para além dos limites do corpo,
Sem contas pra morrer ou viver
No imposto irônico de existir e cair,
Consumir e sumir e, assim, rir do tempo
E reproduzir pensamentos, padrões e palavras,
Sempre à margem das coisas à margem,
Para o lucro de narcisistas no centro...
E, talvez, pudéssemos ser o silêncio sem forma,
O sono das noites que não dormem,
O riso gratuito das coisas sem lógica,
E tão contraditórias quanto a alma humana,
Quanto a vida humana, entre tudo e nada,
Esperando, na estrada, a solução final...
Ou, talvez, sejamos todos nós
famintos eternos de comida e de afeto,
Como piadas do infinito,
Humano, sem certeza e sem teto,
Esperando medalhas das estrelas
Ou aplausos no teatro do mundo,
Entre planetas incertos,
Para provar que existimos...
Mas hoje não quero provar nada,
Se for possível nascer e morrer mil vezes
No mesmo dia, ao menos em sonho,
Então seja...
Se for possível rir e chorar da verdade,
Da suposta "verdade" fabricada em massa,
Para além de antigas verdades,
Então deixe fluir a vida
Na incerta dimensão dos sonhos,
Onde apenas a alma consegue sorrir.
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