NO MEU TEMPLO
no meu templo
sou anjo
sou demônio
sou menino
sou muleque
sou perverso
sou diverso
como bebo visto dispo
caio levanto deito e apronto e me encanto
com o amanhecer do dia
no meu templo
meus olhos rubros
enxergam verde
o outro lado
da margem
do outro lado do mundo
lá no meu templo
eu como poesia
danço na ventania
respiro as cores das
flores que no mato
surgem de repente
no meu templo
oro em verso e prosa
canto com os anjos
com uma só asa
mergulho em neblinas
com perfumes de putas santas das esquinas às margens do tempo
no meu templo
vivo como passarinho
canto e danço na chuva
e sem roupa de alma suja de mim mesmo
e pés descalços
feridos e cicatrizados
vivo várias vidas
cumpridas, efêmeras...
em vários instantes
em vários lugares
no meu templo
eu choro rio e gozo
como as estrelas na solidão sideral
derramam suas lágrimas
no meu templo
eu vivo a vida como
uma reza-poema
como um verso-prosa
como os perfumes das rosas que se alastram
à beira dos seus abismos
das manhãs seguintes
fertilizadas ligeiramente
pela orgia sem política
sem retórica
no meu templo