NO MEU TEMPLO

no meu templo

sou anjo

sou demônio

sou menino

sou muleque

sou perverso

sou diverso

como bebo visto dispo

caio levanto deito e apronto e me encanto

com o amanhecer do dia

no meu templo

meus olhos rubros

enxergam verde

o outro lado

da margem

do outro lado do mundo

lá no meu templo

eu como poesia

danço na ventania

respiro as cores das

flores que no mato

surgem de repente

no meu templo

oro em verso e prosa

canto com os anjos

com uma só asa

mergulho em neblinas

com perfumes de putas santas das esquinas às margens do tempo

no meu templo

vivo como passarinho

canto e danço na chuva

e sem roupa de alma suja de mim mesmo

e pés descalços

feridos e cicatrizados

vivo várias vidas

cumpridas, efêmeras...

em vários instantes

em vários lugares

no meu templo

eu choro rio e gozo

como as estrelas na solidão sideral

derramam suas lágrimas

no meu templo

eu vivo a vida como

uma reza-poema

como um verso-prosa

como os perfumes das rosas que se alastram

à beira dos seus abismos

das manhãs seguintes

fertilizadas ligeiramente

pela orgia sem política

sem retórica

no meu templo

Raimundo Carvalho
Enviado por Raimundo Carvalho em 13/08/2016
Reeditado em 16/05/2021
Código do texto: T5727459
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