Reflexões de uma noite II

Os olhos estão pesados

Sinto a miopia consumindo-os como câncer

Mas mesmo assim os músculos do corpo estão relaxados

Meu pulmão está relaxado

Meus dedos estão relaxados

À essa hora

Sou a única pessoa em São Paulo que observa a rua

Sou a única pessoa presente no mundo

E as pressões se acabam

E a raiva se acaba

E o tempo se apaga

Acabei de transcender,

Palavra bonita essa,

Mas hoje em dia vazia

Trans-cen-der,

Ao tempo e o espaço

Às duas horas da manhã na janela do meu quarto

E estou em tempos em que nunca estive

E estou em terras em que nunca estive

E vivo a vida que nunca vivi

Que criei

Que criarei

Se eu tivesse um infarto, um AVC ou sabe-se lá o que

Não morreria

Voaria por campos que não são campos

Por montanhas que moldei e/ou moldarei

Beberia água que não é água

E criaria impérios pela paz e pela arma

Seria imperador, rei, presidente, governador, escritor, professor, nadador, engenheiro e até marceneiro.

Coisas que quero ser mas nunca fui

E que sou apenas em meio à gatos, lixeiro, latidos e gemidos,

Perante a lua, quatro estrelas, postes e coveiros

Lucas Fontana de Lucca
Enviado por Lucas Fontana de Lucca em 13/08/2016
Código do texto: T5727196
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