Canoa - Utopia
Na minha canoa que é meu templo, a utopia faz morada perene e sublime,
com ela eu remo sem rumos, sem mares e sem marés
mergulho sem rios, sem lagos e sem riachos
respiro os ares
e atravesso de alma e de peito aberto meus vendavais e os meus lamaçais
ferozes e bravos
com ternura e carinho
Na minha canoa utopia, sinto os cheiros de todas as cores dos matos livres, bravos, soberbos
e vadios que se florescem
de simplicidade
Sinto o pulsar das estrelas encarnadas na minha esperança
de um mundo mais inteiro e bonito
com todas as folhas, sementes e flores
nascendo e renascendo, se multiplicando em doação infinita
em comunhão diária
com homens e mulheres
sem muros, sem cercas e sem muralhas...
Na solidão da minha
travessia
eu sinto gozo raro e
sinto afeição do meu corpo em fogo e em chamas delinear-se na grandeza
oceânica de saber sentir o sabor de estar sozinho
ou ao prazer louvável de caminhar de mãos dadas com amigos-irmãos-asas
que perfumam nossos
vôos e nossos ninhos com sabor de liberdade
com delicadeza
e compreensão
na construção de outras canoas - utopias...
onde eu componho ou
meu destino com a coragem de um poeta menino que cria passarinhos sem prisão
E vou rascunhando os meus caminhos
E versando as minhas estradas...
E pulverizo os meus momentos com as bençãos do universo...
E vou traçando a minha vida como um poema sujo, imundo, rasgado e tingido
com as cores que pulsam dentro do meu coração
Que pulsam dentro da minha alma que lateja,
sedenta por viver a vida loucamente
Insistindo em deixar suas sementes retintas
Em deixar seus rastros de incomparável beleza e harmonia
De estimável poesia
e cheiros estilhaçados
em comunhão
com o tempo
testemunho rebelde
dos meus intantes
esculpidos sob
a égide das minhas verdades nuas e cruas
como tradução sem máscaras
de mim mesmo
a fazer ecos e desdobramentos híbridos
nas planícies dos silêncios subversivos