Vida - (poema social-existencial)
V I D A
Se a vida é ciência
E enigma
Sentimos que deveria ser mais bela
É sopro, é sangue fervente
Ganho, perdido na batalha, na guerra
No sacrifício pungente
Na hemorragia do esforço
Da vida mal vivida
Na luta da própria vida
No desperdício da busca
concretude das quimeras
Rugas fincando no rosto
De suores contrações, tropeços
Do dia a dia
Todos querem viver
Não se sabe como
E quando mais se quer viver
Vai-se a vida, vem o morrer
Na destruição de tantos males arraigados
Voraz
Sem se saborear
O que realmente é viver
Viver... é tanta coisa, é tudo e é nada
Para o amargor do tempo
É até morrer
É o reluzir fantasmagórico do metal
Ao concentrar riqueza mal dividida
É dilacerar-se nos desejos ,
vendaval
Pragmaticamente efervescer
Estoicamente para poucos
distante, perene ideal
A sucumbir-se
a espera do paraíso terral
De braços cruzados,
adiando o impulso inicial
Para tantos é simplesmente ter o pão
O pedaço de terra seco
Ou sem meios para semear o pão
Passivamente ver crianças se evadindo
De verme, carência e agressão
Ao relento desamparadas
Sem perspectivas, sem pão
É repartir emoções, ora prazer,
ora solidão
Romper as amarras do egoísmo,
reerguer o outro
Estender-lhe a mão
Viver rezando, pedindo perdão
Do que não tem culpa
Somente vítimas são
Seculares tempos idos
Alienados por sincrética religião
Frágeis, medrosos, fugidios
Não tinha outra solução
Entregando sempre aos outros
Motor de suas ações
Esperar por novas gerações
Ao longo empalidecida vida
Essa massa , esse povo
Triturado na tormenta fustigante
Qual barco desgovernado
Na ignorância, na superstição
Sem amar, só mais sofrer
Vai vivendo e vai morrendo
Sob um silencio contagioso,
comprometido
N a ilusão de ter vivido.