Reflexões de uma noite I
O céu, agora, está como o do dia.
Mas, melhor.
Mais calmo, firme, compreensível
Reflexivo.
O Sol foi substituído pela Lua,
A qual brilha tanto quanto ele.
Só que é branca, não nos cega
E nos permite enxergá-la,
Observar-lhe cada bela cratera, curva,
Cada mínimo e delicioso detalhe.
O céu esta azul,
Mas, escuro.
Mais calmo
Mais bonito.
As nuvens estão brancas,
Mas, escuras.
Mais calmas,
Mais bonitas.
Um gato mia e atravessa a rua.
Sem medo,
Para no meio dela.
Passa então por um portão de uma casa qualquer e se aventura escuridão a dentro.
Vai caçar, lutar e amar e morrer.
Esse gato tem muito mais coragem que eu
Também é muito mais humano que eu.
Um ônibus passa. Na verdade, apenas o seu barulho.
Descobri na aula de latim que a palavra “ônibus” significa algo como “de todos”
Um cachorro late e folhas se quebram como ossos.
Tenho medo de minha cachorra morrer…
Ela viveu tanto quanto eu…
Uma mulher geme progressivamente de prazer
No meio da noite,
Bêbada de gozo,
Finge não ser ouvida.
Seus “sins” nasalados são baixos e gostosos.
Seus lábios, pintados de batom rosa choque,
Babados de prazer,
Colam-se na minha orelha.
Beijam-na
Lambem-na
Mordem-na…
O prédio da frente esta apagado.
Alguém tem que fingir dormir para viver e trabalhar em São Paulo.