Evandro
Eventualmente,
Numa casinha qualquer,
Nasce Evandro.
Evandro vai chorar,
Aprender a falar,
Mamar,
Brincar
E criar.
Mais tarde vai ter de esquecer tudo isso.
Vai aprender A Ordem,
O Delito,
O Direito,
E sua base: O Medo.
Evandro aprende que faz parte de uma família.
Aqui temos o início dos princípios existenciais
(Digo, do o princípio existencial):
Dinheiro.
Também temos o aprendizado de que
Liberdade não se tem,
Se ganha pela boa vontade do outro
Ou de alguma forma se compra com o trabalho do outro.
Lutar por algo assim beira a barbárie
E você será nada mais que um terrorista
De pé com Chê ou Osama Bin Laden
Agora temos a escola,
Lugar onde Evandro aprende que não vale nada além dos números de zero a dez.
Onde alguma ordem ensina os princípios de luta contra a ordem
E outra ordem ensina a importância da ordem na ordem.
Aqui temos a introdução do poder logo abaixo do dinheiro:
O Tempo.
Existe hora para acordar
Existe hora para comer
Existe hora para chegar
Lanchar
Estudar
“Brincar”
Amar
Beijar
Conversar
Ora, existe hora para se ter hora,
Para provar que decorou algum conhecimento inútil
Para cagar ou mijar no banheiro
Evandro também aprende que ser bom é bom, mas é ruim.
E que ser ruim é ruim, mas é bom
Evandro é um dos não mais afortunados que chega à puberdade.
Ai que a humanidade de Evandro começa a se mexer.
Aceitava tudo,
Mas agora não mais.
Às vezes explode de raiva,
Se afoga em uma angústia insuportável
E chora escondido no quarto, de porta trancada.
Suas redações são ruins pois não consegue ter uma opinião formada ou se quer um forte ego, muito menos o tão aclamado poder de persuasão.]
Seus planos não tem lógica (o coitado sonha em fugir para a Islândia ou para a Groenlândia)]
E sua vida ainda não é traçada.
Ele é um fracasso
Evandro aguenta até um pouco da faculdade.
Mas sua humanidade infelizmente é mais forte.
É um tolo calmo e considerado por muitos como absurdamente ingênuo.
Os professores aqui são a mesma coisa
Que sempre teve na escola e em casa.
Só que piores.
Uns são tarados
E/ou
Prepotentes
E/ou
Egoístas
E/ou
Mal-amados.
Se o capitalismo é, segundo muitos deles, o rolo compresso
De uma triste e decadente sociedade,
Eles vão ao seu volante,
Rindo e brincando com os ossos esmados
Enquanto cagam uns doutorados.
Evandro não queria fazer parte disso,
Não conseguia, por mais que se obrigasse a sonhar todos os dias, fazer parte disso.
Via o rolo compressor vindo e a cara sinistra
Dos professores e de seus pais rindo.
Não queria ser mais uma figura chapa no asfalto,
A qual a alma se rebelava e, movida pela mais pura raiva e sede de vingança, matava seus assassinos, apenas para ocupar confortavelmente seus ilustres lugares.]
Evandro tomou escondido a arma de seu pai e se matou
Explodindo seus insignificantes miolos por todo o azulejo do banheiro.
Foi ter seu merecido descanso ao pé de uma grande árvore.
Lá conversava e se divertia com as ninfas
Enquanto seu corpo era cremado
E alguns parentes tentavam se mostrar chateados
Com uma perda que em algumas semanas já seria insignificante,
Lembrada
,Eventualmente,
Por alguns retratos e choros pedantes.