NO SONHO DA ANTEVÉSPERA


Eu vejo a multidão chorando a morte de carrascos
Passados em futuro irredimível, deixam flores

No túmulo do algoz que lhes tomara a dignidade
– há pouco tempo – e a mesma luz do dia seqüestrada,

Sem pira ou cerimônia alguma, sem qualquer escrúpulo.
Eu vejo a multidão polindo um monumento ao rato

Numa assembléia de imbecis zelosos como nunca
Do que lhes diz respeito, em públicos espaços, tantos...

Eu vejo a multidão já fervilhando dos esgotos,
Exalando seu medo, os passos trôpegos nas poças

De corrupções que até o nomear o espírito interdita.
Eu vejo a multidão disforme em seu orgulho, um monstro

Sem face em filas já ciosas do horizonte em chamas
E as promessas da noite atiçam seus instintos turvos.

Eu vejo a multidão comer seus mortos, infelizes,
Entre os escombros amontoados meio a esmo, tantos,

Tão parecidos, todos, fim comum duma almejada
Igualdade, concreta, nos seus peculiares termos.


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Israel Rozário
Enviado por Israel Rozário em 09/08/2016
Código do texto: T5723304
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