FECHAM-SE AS CORTINAS
Hoje o palco está vazio.
Não há luz que varra a escuridão
para baixo do tapete da minha ilusão.
Esqueci o texto e improvisei num balbucio
meu drama que virou comédia
e fez da minha vida uma tragédia única.
Não há plateia que me aplauda.
As cadeiras azuis meditam verticais
em seus frios e falsos couros.
Pelas alas se alongam os silêncios
de mãos despalmadas e ausentes.
Não há olhares curvilíneos
na expectativa do próximo ato.
Eu sou minha própria cena de fato
que já não enceno à décadas
e que perdida se espalha e se recolhe
como pipocas derramadas sobre os pés.
Nesse palco retraído e de público miserável
foi onde representei reticente a esperança doente
enregelada e gratuita
de um dia poder rever tua face lúcida
nos holofotes da minha memória.
Sou essa peça de um só ator sem roteiro
engolido em seu monólogo
que encerra-se em cortinas espessas
de pesadas pálpebras que se fecham e se consomem.
Mírian Cerqueira Leite