VÍTIMA DA BELEZA
Vítima Ali todos a queriam.
Era uma flor rara e bela
Rainha rubra à luz do sol,
Amante ingênua e alva na escuridade
Banhada no perfume silente dos anjos,
Deuses e homens anseiam por ti.
Cobiçada, esperada, venerada,
Mas vencida pela espada.
Seus perseguidores ingratos
Extirparam-na do solo que a vivificava.
E a flor, levada, fora morar em um vaso de enfeite
Num último suspiro trêmulo de vida.
Eu, por outro lado, não ousava tocar-lhe
Preferia-a plantada, bem viva, um tanto distante
Com sua pulsante beleza selvagem
Acariciada pelas mãos dos ventos gentis.
Para mim, o vaso, não passa
De uma urna fúnebre decorada.
Triste flor cobiçada, vítima da beleza,
Singularidade da flor, estupidez dos homens.
Só eu rejeito o teu fim inatural.
Todavia, tremo, fervo, pois igualmente
Venero-te e sofro pelo teu destino tirano.
Viva! Viva! Ó santa flor, ó santa flor
Longe de mim, mas perto dos olhos,
Ou, pelo menos, permita-me morrer contigo,
Juntos num abraço final; desceremos à cova
E faremos do céu nosso jardim inextirpável.