A Torre de Marfim
Nos confins do firmamento
ao fundo a escuridão
por entre as nuvens
no mundo do além
Uma torre de marfim
se destacava
perdida num cume
que beijava o Universo
Era deserta silenciosa
no matagal sereno
mas coberta de magia
Tinha um segredo não revelado
Nem todos tinham o condão
de a observar na intimidade
por dentro ou por fora
com torres de menagem
O ouro e o marfim
bafejavam o castelo
coberto de mistérios
mas no silêncio dos deuses
Um cavaleiro poeta
protegido por sua cítara
entoava cânticos
de uma maviosidade estranha
Aproximou-se destemido
O silêncio reinava
os trovões eram aterradores
a calar o silêncio
Os jardins à volta
cobertos de flores
algumas raras
e sentia-se o seu perfume
Os portões por milagre
abriram-se no clamor
das trombetas da poesia
e lá dentro sentia-se o vazio
O cavaleiro poeta
destemido entrou
Percorreu caminhos emoldurados
estranhos e sombrios
Entrou em salões
com o melhor recheio
possível para aqueles tempos
mas o silêncio prevalecia
Descobriu um quarto
fabuloso luxuoso
Na cama alguém dormia
o sono dos deuses
Aproximou-se timidamente
Era uma princesa formosa
Atreveu-se a beijá-la
no despertar de um longo vazio
Um sorriso sensual
de uma autêntica princesa
observou-o entre o silêncio
e algo se transformou
Ouviram-se as trombetas
por toda a torre de marfim
As salas encheram-se de magia
reis e duques dançavam
O poeta apaixonou-se
pela princesa e por lá ficou
até aos confins do tempo
esquecido das guerras.