CONFISSÕES PRÉ-INVERNO

E o dia segue quente lá fora,

Mas tão frio, aqui, do lado de dentro.

O vento versal, de força braçal e poeirenta

Dobra o capim seco à sua vontade.

O céu embaçado e fumacento, de turvo azul

Sustentava-se no cansaço das eras substanciais.

As árvores sonolentas passam o dia inteiro

Bocejando, contando as cigarras os sonhos esperados,

E as estrelas as previsões de toda a futura

Primavera que descansa latente em sua seiva.

Os animais em solene procissão campestre

Buscam aconchego nas tocas e ninhos.

A serra nua do verde fica mais crua,

As águas diminuem o ritmo de vazão

O coração invejoso também diminui com os amores

Soterrado nas folhas do outono, mas não se esquenta,

Pois o dia segue quente lá fora,

Mas tão frio, aqui, do lado de dentro.

Lá vem o inverno, porém bem antes de chegar

Já sou glacial: brancura de papel estéril, gelo e nevasca.