CONTENPORANEIDADE
Onde estarão as paredes surdas
da contemporaneidade?
E as paredes loucas?
E as paredes broncas?
As paredes cegas
de toda a poesia de qualquer escola ou nomenclatura
desse mundo à fora?
Onde anda a caduquice do tradicional,
aquele mesmo de que se disse clássico,
depois romântico,
e afinal
decadente?
Onde anda o carcomido soneto,
roído do tempo,
roto,
apodrecido,
com todos os pejorativos
com que o têm brindado as novas escolas,
os velhos modernistas,
e agora os heróicos “contemporâneos da contemporaneidade”?
E o coitadinho do confessionário íntimo,
pobrezinho dele, onde andará,
a quem confessa
a sua iniquidade...
Aliás, a intimidade?
Ah vaidade!
Ah auto-suficiência!
Ah pretensão de saber tudo de tudo,
de ser o único certo,
todos os mais errados!
Ah pobre velho caduco
teimando aos oitenta e sete anos
nos seus sonetos
fora de tempo...
Ou se dirá melhor - fora do modernismo e da contemporaneidade?
Contemporaneidade, contemporaneidade!
Quem és tu e por que o és,
quem te define?
Poderias ser um palavrão ou muitos palavrões?
Um rompimento...
Um rompimento com as tradições e o léxico,
com a pureza da linguagem convencional?
Quem és tu e por que o és,
contemporaneidade?
Ah a vaidade!
Ah auto-suficiência?
Ah pretensão...
Ah vontade de aparecer,
vontade de alcançar a posteridade como inovador?