O Caxias
Trabalhando com afinco,
Não brinco... Com coisa séria.
Além de sete as cinco,
Não tiro hora de almoço ou férias.
Sou Caxias,
Máquina que chia...
Dia a dia nessa fábrica.
Minha sudorese amarga,
Enche por completo a carga...
Da esferográfica.
Tragam-me resmas de papel,
O Coelhinho da Duracell...
Não precisa de corda.
Meu pijama é uniforme,
Sou o último que dorme...
O primeiro que acorda.
Em ideias borbulho,
Dois empregos como o Julius...
Do plantio à colheita.
Perco a batida,
Em contrapartida...
Estou à procura da rima perfeita.
Em nenhuma escrivaninha,
Asas minhas...
Aninho.
Mais que vais, que caminhas,
Mais que Vaz de Caminha...
Caminho.
Sou o que nunca se aconchega,
O primeiro que chega...
O último que sai.
O que sempre vem,
E muito mais além...
Vai, vai, vai...
Minha mente nunca descansa,
Avança...
Como o Império Otomano.
Operários vi iguais,
Que labutam mais?
Nenhum outro mano.
Cedo me excedo,
Dado que meu dedo...
É tipo uma Bic.
Rabisco todo o espaço,
Numa imaginária folha de almaço...
É TOC, é tique.
Lapida, lapida...
Frases são esculpidas...
Juntas aos calos meus.
Cada qual é redigida,
Como a última duma carta suicida:
Adeus!