O Caxias

Trabalhando com afinco,

Não brinco... Com coisa séria.

Além de sete as cinco,

Não tiro hora de almoço ou férias.

Sou Caxias,

Máquina que chia...

Dia a dia nessa fábrica.

Minha sudorese amarga,

Enche por completo a carga...

Da esferográfica.

Tragam-me resmas de papel,

O Coelhinho da Duracell...

Não precisa de corda.

Meu pijama é uniforme,

Sou o último que dorme...

O primeiro que acorda.

Em ideias borbulho,

Dois empregos como o Julius...

Do plantio à colheita.

Perco a batida,

Em contrapartida...

Estou à procura da rima perfeita.

Em nenhuma escrivaninha,

Asas minhas...

Aninho.

Mais que vais, que caminhas,

Mais que Vaz de Caminha...

Caminho.

Sou o que nunca se aconchega,

O primeiro que chega...

O último que sai.

O que sempre vem,

E muito mais além...

Vai, vai, vai...

Minha mente nunca descansa,

Avança...

Como o Império Otomano.

Operários vi iguais,

Que labutam mais?

Nenhum outro mano.

Cedo me excedo,

Dado que meu dedo...

É tipo uma Bic.

Rabisco todo o espaço,

Numa imaginária folha de almaço...

É TOC, é tique.

Lapida, lapida...

Frases são esculpidas...

Juntas aos calos meus.

Cada qual é redigida,

Como a última duma carta suicida:

Adeus!

Átomo Pseudopoeta
Enviado por Átomo Pseudopoeta em 01/08/2016
Reeditado em 29/04/2020
Código do texto: T5715714
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