EMBALAGEM

Quando nascemos, estivemos fazendo o caminho num invólucro;

Num saco de pele com todos nossos pertences: Água, e sais minerais;

O ar; este vinha poluído de fora...

Dias depois, nos encaixotaram numa bela caixa semiaberta

Cujos designers são projetados por artistas

Cujo mau gosto desenvolveu uma prisão cruel num espaço

Supostamente lúdico e feliz; o berço.

Dias, meses, anos depois, quando estamos metamorfoseados

De lagartas gigantes e nos nutrimos e engordamos

E ficamos obesos e doentes da mente...

Ai os homens nos encarceram em escuras camarinhas

E somos vilões...

E temos dificuldades para respirar porque eles poluíram nosso ar

E nos colocam dentro de balões de ar, em sacos, macas,

Em corredores de hospital, em lonas, na lona.

Mas sobrevivemos e fazemos eventos

E tomamos cervejas com os amigos no aniversário

A sociedade está nos preparando... E vem um coração...

Vem outros corações, como caças americanos na Segunda Guerra,

E somos tomados de assalto, levantamos bandeira branca

E aprisionados em campos de concentração...

Grandes gaiolas ou pombais de pessoas

Os corações da gente. Presos sem fiança nem Habeas Corpus...

Ainda vem outro dia, enquanto estamos vivendo como ratos que se perdem confusos nas estradas de seus labirintos da vida,

E somos surpreendidos numa dessas armadilhas de amor...

E descemos em espaços vazios visando castelos escandinavos;

Alguns quadrados dentro de um retângulo maior

E um triângulo como chapéu.

Estamos dentro de um belo viveiro com luxo e até janelas

Para os olhos dos gigantes observadores se encaixarem...

E vivemos muitos dias.

Então, um dia o vento sopra, a neblina adensa

E os grânulos de areia e argila se desfazem e...

Sobrevoam meus pensamentos que se sentem engaiolados

Apertados no incômodo caixão de madeira de lei de alto preço

Ou oriundas de caixotes de maçãs...

Poderia ter acabado os dias, mas os dias não acabam logo.

Havia um pátio coberto de cores misturadas;

Vez em quando alguma delas sobressaía do Arco,

Encaminhado fui redondamente enquadrado, igualmente

Com outros espécimes... Misturado naquele universo colorido,

Fiquei pensando se não seria o primeiro...

Entretanto as coisas continuavam mudando.

Outro dia me indicaram um elevador

Entrei e fui descendo, esquentando os pés os calos queimantes,

As escarpas ferindo, os arames farpados dilacerando-me a carne,

E as cinzas, ainda ferventes queimaram

Minha resistência e o meu bom humor...

Eu, perdido novamente, condenado a viver no bojo da dúvida,

Dentro dum invólucro incolor, inodoro e surreal

Até quando com todos os pertences...?

Rocha Poema
Enviado por Rocha Poema em 01/08/2016
Código do texto: T5715498
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