Boca
Desce o decote e o suor vivo do teu peito
A ânsia amarga que cobre a língua do meu leito
Mechas vivas meneantes cambaleiam
Braços fortes como farinha esperneiam.
Boca, vil e doce.
Diz palavras da inatingível distância
De mãos dadas subimos sete degraus
Descemos rolando três
E paramos no parapeito do apartamento.
Bateu a porta
Entrei pela direita
Jogou-me suas bonecas de diversas facetas
Rodávamos felizes, palavras, caretas.
E a sua boca.
Entreabertas linhas curvilíneas
Baba escorre nas beiras
As carnes quentes laterais
Líquido aos conteúdos viscerais.
Boca.
Dela que dá origem à vida
E daí então até à morte
Ter-te comigo é plena sorte
Mechas vermelhas insanas.
Rodelas pratas carinhosas.
Cachos negros agressivos.
Réguas louras abusivas.
Da boca
O grito
O amor.