VIBRAÇÃO
eu ouvia
o intervalo do vento
desfiando sopros
no desalento
das folhagens
e meu sentir
costurava
fio a fio
as fibras
dos solavancos
do rio
naquelas miragens
parecia que a água
nos flancos
flutuava
torturada e tímida
respingando brilho
e eu ouvia
e eu ouvia
à beira dos cantos
o piar
tristissimo
de uma cotovia
levitava sem motivo
minha lágrima
prestes a despencar
sem pressa
e era de uma ternura
expressa
tão cálida
tão delicada
que meus ouvidos
nítidos
não a puderam reter
e eu ouvia
e eu te ouvia
até mesmo
depois de morrer
Mileite