MINHA POSE INDÔMITA
MINHA POSE INDÔMITA
Quer me dar algo pra comer
algo que seja e venha de você
o liquido precioso derretido
feito suor que lacrimeja
e me deixa abatida colérica
sem destino perdida
abraçada ao mal que convém
tecer poucas linhas
nenhuma palavra dita
linguas faladas procurando
alternativas correndo lábios
descendo aos meus lábios
escondidos nas finas
tecidas sedosas que retiras
depressa desafia um perigo
que já vinha comigo
quando tive interesse
me descubra intolerável
com o mundo caótico
querendo um ódio covarde
que termina no sofá da sala
filmando páginas inteiras
de um livro sobre a Pérsia
e as conversas dos diários
de madames complexas
incompletas por isso avessas
cuidando das aparências
que não enganam ninguém
destrua o que tem sentido
que torna tudo enfadonho
imprestável porque é fácil
seja intruso por querer
seja instável sem domínio
não fale do início de toda obra
deixe terminar o encanto
quero ser a sobra acabada
e o portanto sem fim
não suportando ir embora
no momento ficando
porque acabam-se as horas
cria-se o dia numa noite
iluminada de desejos-mitos
invada meu rito sagaz
de fuga
traga minha blusa presa
entre nós coesa firme
de um nó certeza tenho
me amarro nas surpresas
quando caminho desavisada
do possível que pode acontecer
aquilo que pode antever
é tédio
odeio flores entregues
p'ra pedir um beijo
me entregue todas as margaridas
colhidas logo cedo
quebre minha pose indômita!
MÚSICA DE LEITURA: Jolie Holland - Old Fashioned Morphine