A FOLHA E EU
naquela folha seca
que se leva pelo vento
cansada
pressinto
tua presença carregada
num certo cheiro
de jacinto
e ela passa por mim
raspa e reclama
e voa naquele abandono
uma tristeza infinita
que vem e que vai
e em mim
arranha e grita
meus olhos veem
aquela folha morta
num arrepio
asperamente
sinto uma dor torta
e vejo
os teus olhos lindos
que brilham sossego
mesmo que findos
essa dor
atravessa meu corpo
que convulsa
e sei que és tu
que em cada célula pulsa
sobre o rastro daquela folha
me debruço
e só o silêncio ouve
meu seco soluço
Mileite