MUTILADO
Mutilado, meus pedaços agonizantes estavam estirados no chão,
A terra absorvia o sangue que vertia, deslizando feito uma dança, sob o ritmo do fim,
Um círculo de indivíduos estranhos que apontavam seus dedos em direção ao corpo,
Um zunir de vozes que acusavam um motivo para tal situação.
Os pedaços estavam sujos na terra, a plateia esperava o bicho começar a consumir,
O improvável renascer partiria da dolorosa costura de cada pedaço mutilado,
A agulha feria a pele, e com a própria mão costurava os pontos de uma incerta salvação,
Enquanto os olhares contemplavam o espetáculo do desespero.
O chão se tornara salgado com a mistura vermelha e transparente, sangue e lágrima,
Feridas de dores agudas, desejando o avançar do tempo para cicatrizar,
Mente viajante, tentando encontrar uma razão,
Buscando novos sonhos para dar vida ao corpo marcado.
Dentre as flores do mal que assistiram em paz aquilo que parecia anunciar o fim,
Uma voz se despertou a cantar, seus olhos viram as cicatrizes sem apontar,
Suas mãos acariciavam a pele, quebrando os paradigmas da dor,
Me chamava para mais uma tentativa, outro suspiro em nova direção.
Eu me reconstruí, e a voz me conduziu para fora daquele círculo frustrado com o recomeço,
Reaprendendo a caminhar, a mão me segurava como a mãe ensina ao filho os primeiros passos,
Quem era ele que não me viu mutilado, nem presenciou as dores da regeneração,
Mas que ao ver as marcas, presenteou-me com sonhos afáveis, como banho de mar em tardes de verão.