O Espectador

Não sei que desejo vestir

Quando essa roupa de neblina

Já intoxicou meus olhos de sombra

E qualquer movimento resulta em bocejos,

O nada acaba lhe conformando

Em abrir os olhos para os dentes do tempo,

Um dia que eu não soube aconteceu,

Todos os sonhos se diluíram no banho

Escorreram por todo o corpo

E foram para o ralo (devemos segui-los?),

Todas as brilhantes ideias, desejos calorosos

Vagam pela escuridão dos encanamentos do mundo

Acontecendo em possibilidades

Descartadas, impedidas, ignoradas

De momentos solitários em memórias

Desoladas pelo arrependimento de nunca ter sido,

É a saudade do futuro que nos mata,

Que nos faz afundar dentro de nós

Para assistir o possível espectro de si

Realizado pelas mãos amputadas

De seu âmago estrangulado,

Quantos cadáveres ilustríssimos

Nesse oceano de desilusão,

Quanta luz nessas trevas,

O mundo exterior é insípido

Para a amarga tragédia

De nossos doces fracassos,

Nossas bem amadas derrotas

São um triunfo nostálgico

Para nossa imensa solidão

Povoada de memórias violadas

Por desejos nunca concedidos,

Nossa poltrona de Rei

É uma cadeira no teatro da imaginação

Onde assistimos a realização subvertida

De inúmeras quimeras do passado.

Leandro Tostes Franzoni
Enviado por Leandro Tostes Franzoni em 28/07/2016
Reeditado em 05/12/2023
Código do texto: T5711449
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