cade o poema

cadê o poema? Não sei do poema,

em que rio noturno ele descansa

Talvez, nalgum reino que o estrangula,

Que o prende pela garganta e o impõe

Contra o tempo, ou sob pena de alguma

Lei feita para arrancar do poema o seu fato mais

Certo e líquido , o de ser um poema, e esse, desesperado

Pede um perdão, mas quem perdoa mesmo?

Ainda mais quando não há crime, e por que o poema

Se subverte? Quem sabe seja apenas para

Ser entendido e se põe abaixo do mais baixa

Sentença desse inferno?

O poema sabe do seu reino, da sua elástica clareza

de suas letras, sabe nadar nas profundezas escuras,

conhece o abismo mais secreto, o despenhadeiro

mais Remoto, nas águas mais turvas e indelicadas.

O poema, que tanto sabe e tanto é, uma vez que

já poema, não imagina, talvez pelo absurdo que

Isso seja, que um burocrata de óculos que nunca

tomou chuva, nunca esteve num miolo de uma

tempestade, nunca saltou no torvelinho de maremoto,

nesse momento controla um tanto

Do mundo, e muitas vidas pagam, sem o ter,

já que sempre foram roubados,

Não sei do poema, mas de muitas coisas que

acontecem antes dessa linha imaginária, eu

sei sim, mas me abala a falta do poema!

Andrade de Campos
Enviado por Andrade de Campos em 27/07/2016
Reeditado em 27/07/2016
Código do texto: T5710801
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