cade o poema
cadê o poema? Não sei do poema,
em que rio noturno ele descansa
Talvez, nalgum reino que o estrangula,
Que o prende pela garganta e o impõe
Contra o tempo, ou sob pena de alguma
Lei feita para arrancar do poema o seu fato mais
Certo e líquido , o de ser um poema, e esse, desesperado
Pede um perdão, mas quem perdoa mesmo?
Ainda mais quando não há crime, e por que o poema
Se subverte? Quem sabe seja apenas para
Ser entendido e se põe abaixo do mais baixa
Sentença desse inferno?
O poema sabe do seu reino, da sua elástica clareza
de suas letras, sabe nadar nas profundezas escuras,
conhece o abismo mais secreto, o despenhadeiro
mais Remoto, nas águas mais turvas e indelicadas.
O poema, que tanto sabe e tanto é, uma vez que
já poema, não imagina, talvez pelo absurdo que
Isso seja, que um burocrata de óculos que nunca
tomou chuva, nunca esteve num miolo de uma
tempestade, nunca saltou no torvelinho de maremoto,
nesse momento controla um tanto
Do mundo, e muitas vidas pagam, sem o ter,
já que sempre foram roubados,
Não sei do poema, mas de muitas coisas que
acontecem antes dessa linha imaginária, eu
sei sim, mas me abala a falta do poema!