Apocalipse
I
Meu Deus me salve que a terra não presta
Está podre de desejo que nem pobre em despejo
Cercado de varanda, não presta pra nada
Porquê não quadrada que redonda não roda
Não tem espaço nem no canto pro primo da verdade
Mas ela está lá, vestida dela e de maldade
Me tira daqui que não respiro
Estou de sobra num jantar que sal não presta, a comida não resta
Me tira do teu jeito
Que corpo de barro com água derrete
O cozinheiro não presta, só faz na boca e o que resta é ração pra cão na cesta
Não sei falar verdade em conversa com a mentira. Me tira daqui?!
Me tira que não posso
Mas maçans com corpo sem roupa
Não sabem o que sei por quem tem dente que come
Não dá pra mim ver louco pensando e de uniforme fumando
Roubando chupetas salgadas por serem tocadas
Me tira meu Deus, que não posso mais pular sabendo que caio
II
Me tira! Que eu não pagarei ao pecado com crús, verdes, de mentira
Me tira ou me ajuda a vender mais pó que cultura
Me veste de roupas que me guarde, e não me roube
Me sirva de ti em casa e não me seque, não me arrasa
Me tira ou me ajuda a mudar a direção do barulho da explosão
Que pobre sozinho não vivi sem carinho e não de emoção
Não me faças escrever mentiras num papel que tu não crias
Me ajuda! Falar do sal, mentir ao mal
Fazer piadas rimando manadas
Comer carne que não me enterre na cama sem barro nem vérme
Me ajuda a, a comer em dois pratos com patos na cadeira
Galinhas brincando e peixes voando
Ironisa nossa vida em metáfora que desliza
Que essa terra, essa mente a verdade mais crente
Me tira ou me ajuda
Que dormir é tortura
Homem não bebe do barro
Mas se enterra numa esfera de engano
Me ajuda que tenho medo de morrer porque morto ainda vivi
III
Me tira e nos perdoa que eu quero uma vida boa
Me perdoa por saber que quem tem olho não quer ver
Quem tem pé pula dando a ré
Fazendo das pernas galhos de raiz sem sair da terra
Nos perdoa por pecar sem falar palavras que tem vidas salvas
Ficando sozinho, me perdoa que podre, tenho medo
Medo de nada, de sorrisos que engana
Medo de viver esperando a morte que dá sorte
Medo de andar sabendo que tenho pernas
Me tira, ou me ajuda, e me perdoa que viver é sofrer
Ops, sofrer e não morrer
Meu Deus me tira que tortura é pouca nas palavras que saem da boca.