A palavra
A palavra nunca me habita
Exatamente
A palavra é sempre através
Qual amor velejante
De uma margem a outra
De uma ponta a outra do meu rio
Ainda que eu a procure
A palavra não se dá
A mim
Nos olhos
Face a face
A palavra carece que eu a toque
Durma com ela
Degusta-a na boca
Beba-a erva em infusão
Também eu imprescindo
Sinto frio de palavra
Preciso que chegue
Vindo
Mais que vendo
No cheiro da noite
No pelo da manhã
No corpo que eu imagino
Até que aconteça
Muda
Radiante
Música nos sentidos
Ao ponto de dizer o silêncio
Quando o poema
A deseja.