O Jogo
Os olhos vêem o rosto no espelho
Das salas anteriores
Mas não conseguem ver o rosto em que está,
Visão errante nas salas de recordações
Procurando os motivos marcados em linhas
No rosto de agora,
Expressões resignificadas por emoções indefinidas
De passes certos e errados na dança da vida
Formando, deformando e reformando
O reflexo turvo do que chamam de Ser,
Os olhos são distraídos nos rostos de tantos ontens
Enquanto a marcha cardíaca o leva ao limite da sala
Onde as portas são embaralhadas pelo destino
Convidando nossas mãos,
Nesse baralho de portas
Cada naipe representa um sonho
E os números são o segredo de cada fechadura,
A chave é o rosto que achamos que temos,
E a certeza que possuímos
É a incerteza de todas as salas do futuro,
Quando abrimos a porta só encontramos nós mesmos
Soltos em uma imensa escuridão,
É preciso do brilho de toda sua vida para iluminar a sala,
Porém o encontro da luz com as sombras
Esboça somente um reflexo do agora
Que exige mais nitidez para ser definido,
Então para saber como e onde estamos
Recorremos as salas anteriores nas lembranças
Arrastando toda luz do passado
Que fica mais pesado a cada ano,
A cada sala nova
Que com o passar do tempo é tão igual quanto a outra
E mesmo assim nunca encontramos nosso rosto,
Talvez porque ele seja exatamente esse jogo,
Abrir portas até o passado tornar-se insustentável
E temos que assisti-lo na sala que alcançamos
Deixando a marcha cardíaca nos levar
Onde o destino abri uma que não permite
Acessar a luz das anteriores.