Palavras salgadas
Salvei tua vida, poetisa.
Arranquei-lhe do embrulho salgado do mar,
antes que o embalo bruto das ondas
sacudissem tua alma, pra lá e pra cá.
Querida, não há dívida.
Um servo à tua ama, não pode cobrar.
me dê algumas de suas palavras salgadas,
que fogem dos pulmões, cansados por naufragar.
Por pouco o mar não lhe abraça apertado,
não arranca de ti o ultimo suspiro.
Pra deixar-lhe fugir das suas entranhas,
há de haver algum motivo.
As letras ainda pingam de ti, poetisa.
As frases consomem o ar, dentro do peito molhado.
O esforço vale a pena, pobre menina,
cospe as velhas ideias desse corpo cansado.
Veja você, de pé outra vez
Marcando sem vírgula seus passos no chão.
Eu sempre perdido, obedeço seus versos,
persigo tuas rimas, quando elas te afogam, agarro tua mão.