Desce tão perto dos olhos a serra
Desce tão perto dos olhos a serra
que depois dela, depois do de lá do traço dela
do mundo nada nos chega
e no vão dos braços erguidos da encosta
descansamos.
No grito firme do sol
afasto a lembrança da noite
afugento da memória a tristeza fundamental
e rabisco no relevo alto dessas linhas antigas
a face de um deus cansado.
Se deito a vastidão da paisagem
inclinando o ombro
adivinho uma nascente
salto de cachoeira...
A serra é um dorso prologado
uma dobra na terra
a montanha de pedra ergue-se
em nódulos acumulados
as folhas das árvores revestem
a nudez da pedra na encosta
franja iluminada, a manhã é fóssil sonolento.
Desdobrado o testemunho das alturas desse olhar,
desço para o vale e mergulho...
O mar de ondas verdes continua
e eu, sem mistério, reinvento
o oceano que há muito secara.
Baltazar