PALIATIVO



Ausente exceto pelo corpo – acúmulo
De perdas que o completa
– insiste em prorrogar essa estadia
A cada vez mais cara o quanto possa –
Um vício assim não o deixaria facilmente
– o bem mais precioso
Em cotações bem parciais.
Ele não sofre mais,
Suporta até os remorsos e resiste
Até às hipocrisias quando é tarde,
Tarde, muito tarde para lágrimas.

Visitas são lembranças que teria
Se ainda aqui, insistindo por algum motivo
Em busca de notícias
Que prolonguem ainda mais a espera
De vestígios de quem foi.
O alívio de não ter
Certezas mal funciona à beira-leito –
O que são todas essas máquinas
Que chiam, rangem, piam
Sem sossego em volta dele?

Excesso é ser sem ter porque durar
Além do que lhe exige
O dia já bem longo,
E, em lentas ondas de esquecer
As faces no ir e vir
Contínuo que o abençoa com rotinas
Sedativas, vozes frívolas e anotações
Dizendo que está vivo –
Exceto pelo que lhe escapa
À inércia de seus membros subjugados
Pelo acaso de algum dia
Ter havido alguém ali.


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Israel Rozário
Enviado por Israel Rozário em 17/07/2016
Reeditado em 17/07/2016
Código do texto: T5700450
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