Hai-kais na madrugada

No vazio do tédio

bato palmas e o eco

mostra o dedo médio

Cultura burguesa

a TV faz a cama

e põe a mesa

Tanta coisa na cabeça

no coração apenas uma

antes que me esqueça

Impertinentes

os versos voam

faca entre os dentes

Sempre foi assim

Gastei tempo e latim

E a vida vai sem mim.

Diapasão

afinar o molho

com o tom do pão.

Poesia só existe

Como objetivo estético

Se me faz bobo ou triste.

Desculpe, querida

estou sem apetite

pra comer a vida

Atores eunucos

retornam ao palco

para os apupos.

Dopada eternamente

em berço esplêndido

segue em boiada essa calma gente

No vil conchavo

em cada grade

me escravo

Dúvida deplorável:

poeta menor

é inimputável?

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Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 17/07/2016
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