A laranja

A laranja exposta sobre a mesa

Colore os olhos de promessa.

A lâmina da faca

Desliza fina rente à pele

Enquanto as mãos se movimentam

Em círculos contrapostos.

A progressiva retirada da casca

Embebe de sumo o ambiente

Impregnando corpo e mente

Com o cheiro de pomar.

Desnudada a laranja

Um corte assimétrico transgride a totalidade

E o caldo escorre entre as mãos

Deixando o fruto ao ponto de gosto.

Levado singularmente à boca

Ao toque da língua

O sabor se realiza.

Não há revelação

O sabor é um acontecimento

Prometido.