FUNDO OCO

O tempo é fundo oco

é a voz de um soco sem remetente,

nunca pede perdão,

Suas barbas encantam, decantam, desfibram,

fazem da nossa alma gato e sapato,

seu suor é sábio, é arremate,

seu cheiro é cicatrizante como a mão de Deus.

O tempo é avesso, travesso, adverso,

se gritar o mundo todo foge para o mar.

só ele sabe o segredo das centelhas da paixão.

Do seu estribo barroco exalam gotas suaves de afeto,

do seu descaso escorrem os mantos puídos da nossa dor.

O tempo se esgrima, se atiça, se espreguiça,

quem cair nas suas barbas frito está,

que roçar nas suas rebarbas ileso nunca ficará.

O tempo tateia os ossos cansados da vida,

tricoteia cada gozo ajambrado que sobrar da gente,

é rajado, é desatado, é desastrado, é imantado,

quando quiser aportar bastará escolher um de nós

e dizer estou aqui para ficar,

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